“Só
vistas a aspereza deste ermo e a pobreza do mosteiro desmantelado. Mas canta
dia e noite, a correr encostado às fundações do velho cenóbio beneditino, um
ribeiro lustral.
E o asceta e o poeta que se degladiam em mim, de há muito
peregrinos desta solidão, mais uma vez se conciliam no mesmo impulso
purificador, a invejar os monges felizes que aqui humildemente penitenciaram o
corpo rebelde e pacificaram a lama atormentada.
O corpo a magoar-se contrito no
cilício quotidiano da realidade e a alma a ouvir de antemão, enlevada, a música
da eternidade”
(Miguel
Torga in “DiarioXIV”, pág. 62)