Negrões, Montalegre por Miguel Torga

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Negrões, Barroso, 28 de Maio de 1955

Por mais que tente, não consigo reduzir estas vidas de planalto a uma escala de valores comuns. Foge-me das mãos não sei que força incomensurável, que, exactamente por ser assim, se alcandora nos olimpos possíveis do mundo. Nada existe aqui de notável a testemunhar uma actividade humana superior ou singular. Seres esquemáticos, num ambiente esquematizado. E, contudo, cada indivíduo parece trazer à sua volta um halo de intangibilidade divina.
Talvez seja a própria pobreza do meio que, despindo-se de todo o acessório, lhes evidencie a essência. E a nossa perturbação diante deles seria a perplexidade de pobres Adões cobertos de folhas diante de irmãos que permaneceram nus.

Miguel Torga, in Diário VII

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